César Baldaccini – uma biografia

César é um artista único, tanto por sua avassaladora capacidade de invenção como por sua forte ligação com o classicismo. A partir de uma oposição entre o fazer artesanal e uma prática fundamentada sobre o poder da matéria-prima, das máquinas e das técnicas industriais, César desenvolveu uma dialética, um vai-e-vem, um método próprio, abrindo diversos “canteiros”, como denominou seu amigo Raymond Hains. E retornava sem parar a esses canteiros, inventando novas ferramentas, levando o mais longe possível sua curiosidade.
Foi um artista de seu tempo, que soube se integrar perfeitamente ao contexto industrial e tecnológico, sabendo tirar vantagem do imenso progresso científico do pós-guerra. A tecnologia, fornecendo-lhe um poder sobre a matéria-prima até hoje inigualável, conduziu sua sensibilidade manual e artesanal ao domínio da ação.
Dados bibliográficos
Filho de imigrantes italianos de origem toscana, César Baldaccini nasceu em Marseille, no sul da França, em 1921. Seu pai tinha um pequeno negócio de vinhos no bairro e que seria o destino de César não fosse os conselhos de um representante comercial que, ao vê-lo desenhar, ressaltou sua excepcional habilidade. Assim, ele ingressa na Escola de Belas-Artes de sua cidade aos 16 anos, dedicando-se desde cedo aos estudos da modelagem e do desenho. Foi aluno de um discípulo de Rodin, August Cornu, que ensinava de forma essencialmente técnica, o que marcou a trajetória de César, sensivelmente apegado ao domínio de seu metier.
“A noção de arte, de escultura se desenvolveu de maneira puramente aleatória em meu espírito. Mas existe alguma coisa de importante que permanece enraizada em mim, e é o manual, a técnica; é deles que me iniciei como artista. Tenho respeito total pelo trabalho, eu sou um clássico de espírito e de formação”. (César par César)
Uma pequena bolsa de estudos obtida em 1942 possibilita sua ida para Paris, onde ingressa no ano seguinte na Escola de Belas-Artes. Nesta época passa a frequentar os ateliês de diversos escultores e estabelece uma relação mais próxima com Giacometti, que era seu vizinho. Passa a ter uma forte influência deste artista, assim como de Pablo Gargallo e Brancusi, e também das pinturas de Degas, Matisse e Picasso. Frequenta a cena artística de Saint-Germain-des-Près e de Montparnasse, com toda a sua efervescência.
Começa então a esculpir figuras pequenas, investindo em novos materiais como prata, ferro e fios. Até que, em 1946, descobre numa usina de carpintaria na região de Vars, a técnica da soldagem a arco elétrico da qual passa a fazer uso para “juntar” sucatas de ferro, que se tornam sua principal matéria-prima.
Mas o espírito livre de César não permitia que ele ficasse atrelado a academicismos e abandona, por volta de 1954, sua formação acadêmica.
César atribuía sua escolha pela apropriação de matérias-primas não tradicionais ao fato de não ter recursos para trabalhar com matérias nobres.
“O mármore de Carrara era muito caro, e a os dejetos de ferro velho espalhavam-se por todo lugar. Eu me tornei escultor porque eu era pobre”.
1954-1966: Les Fers Soudés
“Eu trabalhava num bairro periférico de Paris onde haviam muitos galpões de ferros velhos. Eu comecei a utilizar as peças de ferro velho por questões puramente de necessidade financeira. Mas ali eu encontrei a minha vida artística. Eu me entusiasmei por essa matéria-prima, por esta técnica. Uma técnica como qualquer outra”.
O ano de 1954 é um marco em sua trajetória quando decide se instalar numa pequena usina da periferia norte de Paris, em Villetaneuse. Aqui, já dominando totalmente a técnica de soldagem ele realiza a maior parte de sua série dos “Fers soudés”. São figuras humanas e o bestiário por ele inventado, povoado de insetos e animais de todos os tipos, que lhe trazem celebridade e o conduzem a sua primeira exposição solo em 1954, na Galeria Lucien Durand, em Paris. Neste mesmo ano ganha o prêmio de “Trois arts” da Escola Superior de Belas Artes de Paris por sua obra “Le Poisson”, um peixe de mais de 3 metros, adquirido no ano seguinte pelo Museu Nacional de Arte Moderna. Expõe também no Salão de Maio de Paris em 1955. A partir daqui, César se distingue definitivamente de seus pares e recria de maneira inovadora a escultura em ferro.
“A partir do momento em que passei a trabalhar na usina em Villetaneuse, minha escultura se desenvolveu em função das possibilidades oferecidas pelas matérias-primas e pelos instrumentos”
Seu sucesso não para por aí e é convidado para expor em diversas galerias e exposições internacionais: Galeria Claude Bernard, Hannover Gallery de Londres (1958), Bienal de Veneza (1956), de São Paulo e de Carare (1957), Exposição Universal de Bruxelas (1958), Salão de Maio de Paris (1959) e Documenta de Cassel (1959). Ele assina um contrato de exclusividade compartilhado pelas galerias Claude Bernard (de Paris) e Hanover (Londres).
Fascinado pela figura de Léo Valentim, um dos mais célebres homens-pássaros que morre acidentalmente em um voo demonstração em 1956, César desenvolve uma série de figuras com enormes asas. As figuras aladas têm um lugar especial na sua obra, muito provavelmente motivado pelos desafios relacionados a questões formais de como vencer a gravidade e estabelecer uma nova relação entre volume e superfície plana. A série relacionada a Valentim rendeu cerca de 19 esculturas criadas entre 1956 e 1959 onde a forma humana é portadora de duas asas ou uma única e imensa asa, plana como um estandarte, asas que não se assemelham às das aves. Ele apresenta cinco esculturas desta série no Pavilhão da Bienal de Veneza.
Casa-se com Rosine Groul em 1960 e tem uma filha chamada Ana.
No fim dos anos 50, a bipolaridade abstração-figuração já presente em sua produção artística, se afina perfeitamente. Ele cria simultaneamente peças figurativas e peças abstratas. Neste movimento para a abstração, César faz suas primeiras obras da série “Plaques”.
“Petit Déjeuner sur l ‘herbe”, duas latas de conserva prensadas sobre uma placa metálica, surpreende e diverte por sua ligação com a obra de Manet, considerada obra fundadora da modernidade.
Le Peti Dejeuner sur l’Herbe, foto de https://www.enrevenantdelexpo.com
Exposiçao César à Marseille, musée Cantini, 17 septembre 201
As peças em baixo-relevo representam uma notável conquista de transposição do estilo pictórico para a escultura, entre as quais se destaca “L’Hommage à Nicolas de Stael, de 1958. A obra “Bas-relief” de 1961 mostra uma grande complexidade de estrutura, as bordas com diferentes placas imprimindo à forma unificada pela cor um certo grafismo, uma forma de gestualidade.
Esse processo abriu as portas para a série das grandes “plaques” às quais se vinculam, pela mesma técnica, a série das grandes asas, com os diversos “Valentin” e a obra “Homme de Villeteneuse”.
Em 1963, trabalhando nas obras “Venus de Villateneuse” e “La Pachollette”, César começa a realizar as impressões de seus dedos polegar e indicador. Mais um novo canteiro se abre… nasce “les empreintes”.
O processo de criar as “plaques” assume grande importância na obra de César. A acumulação de elementos, sua justaposição, sua sobreposição, sua concepção modular e repetitiva, conduzem a uma linguagem quantitativa da matéria, a uma força auto expressiva da matéria-prima, já um prelúdio das compressões.
1960-1965: As primeiras compressões
Assistindo um documentário, César se toma fascinado por uma prensa hidráulica americana, capaz de comprimir veículos. Confrontando incessantemente sua obra entre o classicismo e a modernidade, César elabora uma prática baseada sobre aquilo que o crítico Pierre Restany chama de uma oposição contínua entre “homo faber” e “homo ludens”. Transitando entre o domínio da técnica da escultura e a realização de ações inovadoras, César surpreende seu público quando, por volta dos anos 1960, realiza suas primeiras compressões, que culminou no escândalo da obra “Trois tonnes” (Três bolas) exposta no Salão de Maio deste mesmo ano.
A compressão é a grande sacada artística de César, por diversos motivos. Pela radicalidade da ação, ela lhe atribui um lugar pioneiro; pela simplicidade da técnica, ela lhe permite fazer obras espetaculares; por seu contexto (matéria-prima adquirida em ferros velhos, fabricação por uma máquina, etc.) ela aproxima sua obra da esfera de Duchamp e o incluir no grupo dos artistas do “Novo realismo”. Por outro lado, uma compressão não é um ready-made e César (pouco chegado a teorizações em seu trabalho) tem, na verdade, o interesse pela matéria-prima e suas deformações. Aliás, e desde sempre, ele professava:
“Eu não me deixarei jamais aprisionar por uma teoria, uma moral, uma verdade”
Durante esta fase das primeiras compressões, o artista utiliza partes de automóveis prensadas em blocos. Ao longo de toda a sua carreira, César fará compressões de diversos outros materiais: tecidos, papel e papelão, e até mesmo de joias. Essas esculturas portáteis, como ele chamava, ou joias-esculturas, tomavam a forma de pequenas placas, pingentes ou outras formas geométricas feitas por compressão de peças de ourives já existentes e também de elementos sem valor, como tampas de garrafas.
Em 1961 ele viaja aos estados Unidos por ocasião de sua exposição solo na Galeria Saidenberg de New York, encontra Yves Klein e Jean Tinguely com os quais vai visitar Marchel Duchamps.
Ainda em 1961 realiza as chamadas compressões “dirigidas”, onde ele escolhe os materiais que vão ser colocados na prensa em função das cores e da sua composição para depois decidir o grau de compressão a ser aplicado.
Nascem no ano seguinte os as placas de auto relevo onde solda peças de ferragens comprimidas em uma placa metálica.
Após uma série historia de 7 grandes compressões, o artista se volta para antigas esculturas em ferro soldado e finaliza a belíssima “Victoire de Villateneuse” (1965). César não para de conjugar as propostas radicais com a prática mais clássica da escultura, duas vertentes de sua obra que iluminam uma à outra.
1965-1967: impressões humanas
Dois fatos vão levar César à criação de um novo canteiro de trabalho: o convite para participar da exposição “A mão, de Rodin a Picasso” promovida pela Galeria Claude Bernard em Paris, e a descoberta do pantógrafo, que possibilitará o artista aumentar suas obras em tamanho.
As moldagens de seus dedos dão origem à célebre obra “Pouce”, que o representa na exposição da galeria de Paris: o seu polegar ampliado para 47cm e feito em resina rosa translúcida. No ano seguinte ele apresenta no Salão de Maio um polegar de 2m de altura realizado em ferro e bronze. Esta obra será uma das mais reproduzidas e conhecidas, à qual César vai dar uma multiplicidade de tamanhos e materiais, como o polegar de 6m de altura, criado por ocasião dos Jogos Olímpicos de Seul (1988), o monumento de 6m em Djeddah, na Arábia Saudita (1981) e o instalado em La Défense, em Paris (1994), que atinge 12m de altura.
Le Pouce, La Défense, Paris
Foto por http://parisladefenseartcollection.com/fr/routes/48
“Le Pouce foi minha resposta à demanda que Claude Bernard me havia feito para participar de uma exposição que tinha por tema a mão. Eu não sabia o que fazer e um dia, me encontrei face a um pantógrafo a três dimensões que permitia ampliar esculturas de maneira muito precisa. Essa máquina me causou a mesma sensação que eu havia experimentado ao me deparar com a prensa de Gennevilliers. Então eu modelei meu polegar e, após infrutíferas tentativas, obtive uma versão absolutamente perfeita, a ponto de me fazer sentir que essa escultura era tão minha como as peças que eu esculpia ainda jovem no mármore ou na madeira. Eu me senti, de certa maneira, responsável por este polegar”. (Un entretien avec César)
As impressões humanas não param por aí. César procede à impressão de outras partes do corpo humano e em 1967 realiza uma nova e célebre obra – “Sein”-, moldagem do seio de uma dançarina do Crazy Horse (Victoria Von Krupp). Esta obra irá gerar outras versões, ampliadas e realizadas em diferentes materiais (plástico, mármore, cristal, ferro, bronze e até em açúcar!), como a versão em inox de 5m de diâmetro instalada na fábrica da Rochas, em Poissy.
Em 1966 ele tem suas primeiras retrospectivas realizadas em diversas cidades: Amsterdam, Duisbourg e Marseille
Em 1969 César cria “Le Poing”, um pulso monumental de 7 toneladas, em aço inoxidável fundido e polido, instalado na praça de armas do Liceu Militar de Saint-Cyr.
1967-1970: A plasticidade das expansões
Sempre inovador e guiado pela lógica acidental da matéria-prima, César desenvolve um princípio contrário às compressões, oposto e dialético: “Les Expansions”. Ao metal comprimido sucede o poliuretano e outras matérias-primas que o artista aplica técnicas de descolorir e polir aliadas aos métodos da escultura clássica. Após “Les fers Soudés”, as Compressões e as Expansões são logo reconhecidas como dois marcos inaugurais da escultura moderna.
Apresenta no Salão de Maio de 1967 sua primeira grande expansão: “Expansion Orange” em espuma de poliuretano. Seguem-se diversas Expansões realizadas em púnico, que se tornam verdadeiros happenings. A modernidade de sua obra reside não só na radicalidade, mas também na plasticidade de proposições que ele adota através de diversas matérias-primas e as adapta a diferentes contextos: esculturas monumentais encomendadas pelo poder público, esculturas comestíveis para a Galeria Eat Art de Dusseldorf, expansões em vidro para Cristallerie Daum, em Nancy.
Por ocasião de uma exposição na Tate Galery de Londres (1968) ele realiza três grandes expansões e depois as corta em pedaços e distribui ao público.
Em 1970, o Centre National d’Art Contemporain organiza uma exposição com 20 de suas expansões realizadas ao longo dos últimos 2 anos., e que segue depois para o Palais de Beaux-Arts, em Bruxelas. Ainda neste ano, ele participa em Milão da celebração do aniversário do grupo do “Novo Realismo” e faz uma expansão em público na Galeria Victor-Emmanuel II.
“Eu procurava por uma expansão livre, que expressasse a linguagem da matéria-prima em si. Minha intervenção se limitava a direcionar o fluxo que, de outro modo, teria se espalhado como um crepe. Eu o queria ondulante, maciço. Algo sensual e compacto, como uma onda que se forma no mar”. – Les Sept Vies de César
1970-1990: A era do bronze fundido
Em 1970 César é nomeado professor na Escola de Belas Artes de Paris (onde lecionará até 1986). Célebre e reconhecido universalmente, o artista se sente livre para continuar sua obra com um senso incrível de aplicação e exploração de novas matérias-primas e da reinvenção de seus próprios aprendizados.
Em 1973, a Galerie Creuzevault de Paris organiza a exposição “Tête e Tête” com sua série de “Masques”. Iniciada em 1972, essas obras são moldadas a partir do rosto do artista e feitas com uma diversidade de matérias-primas. Algumas delas, feitas na Boulangerie Polaîne, de Paris, foram cortadas em pedaços e distribuídas ao público presente.
Em 1975 desenvolve o famoso troféu para a Academia de Cinema Francês, o “César”, uma pequena compressão de 29cm de altura que será entregue pela primeira vez em 1976.
A partir de 1974 ele realiza o que chamou de “Portraits de compressions”: são compressões murais utilizando papelão, madeira, tecidos e papeis diversos comprimidos e colados sobre placas de madeira, apresentadas de forma vertical.
“Dos dejetos industriais, eu passei para os dejetos urbanos(…). Essas compressões representam a poesia do dia a dia. As pequenas coisas da vida…”
Como sempre revisitando sua obra, em 1978 ele retoma seus “fers soudés”, agora aplicando a técnica de soldagem ao bronze e remodela obras anteriores, ampliando-as em tamanho. Esta técnica será a partir de então, uma presença em sua obra, dando origem à famosa série “Poules patineuses” (esculturas galinhas em bronze e gesso, a partir de 1984) e outras obras monumentais: “Le Centaure” em homenagem a Picasso (instalada na Place Michel Debré, no bairro de Saint-Germain, Paris); “Flying Frenchman”, encomendado pela Cartier e instalado em Hong-Kong (1992).
“Flying Frenchman”, Hong-Kong
Por Another Believer (https://commons.wikimedia.org/wiki/User:Another_Believer)
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hong_Kong_(2017)_-_1,259.jpg
Centaure en Hommage à Picasso, Carrefour de la Croix Rouge, VIe arrondissement, Paris, France.
Photograph by Rama, Wikimedia Commons, Cc-by-sa-2.0-fr”
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Paris-Saint-Germain-p1010789.jpg
O encontro com o bronze permite ao artista dar uma importância e uma elevação a todas as abordagens anteriores: modelagem, soldagem, colagem, montagens. Ele pode então multiplicar em muito sua força de produção, realizando milhares de esculturas com esta matéria-prima. Ele inicia reproduções em bronze de alguns de seus ferros soldados, por encomenda de seus marchands. Mas logo o artista dá voos à inventividade e inicia um trabalho de recriação de suas peças. Remodeladas, ampliadas, retrabalhadas, essas obras conservam apenas uma semelhança longínqua com seus originais.
Nos anos 1980, sua obra alcança total reconhecimento. Expõe em cidades do mundo inteiro, e tem uma retrospectiva no Museu Seibu, em Tókio. Ele recebe, entre outros, o Grand Prix National des Arts para a escultura, o Grand Prix de la Ville de Paris e o prestigioso Premio Imperial do Japão. Em 1882 recebe a insígnea da Ordem Nacional do Mérito.
Em 1984 a Fondation Cartier organiza a exposição “Les Fers de César” na abertura de suas portas em Jouy-em-Josas. Graças ao apoio permanente dessa fundação, César se debruça sobre uma de suas maiores obras, “L ‘Hommage à Eifell”, que alcança 17m de altura e 11m de largura. Realizada de 1984 a 1988 no parque de Montcel, com fragmentos de ferro provenientes do trabalho de restauração da própria torre, essa obra marca para César não somente seu retorno ao trabalho com ferro como também uma ideia de abstração na qual apenas a plasticidade do material conta.
Em 27 de julho de 1988 César recebe o prêmio Rodin e encontra, no ano seguinte, Stéphanie Busuttil, que se tornará sua colaboradora e última companheira, dirigindo o ateliê do artista até a sua morte. Ela cria posteriormente a Fondation César (2012).
1990-1998: A apoteose de César
Paralelamente aos bronzes, as compressões assumem uma fonte inesgotável de experimentação para o artista, dando nascimento a novas séries emblemáticas e a duas instalações grandiosas.
Em 1985 dá início à série “Championnes” de compressões realizadas a partir de destroços de carros Peugeot Talbot utilizados em rally. Essas obras são expostas no ano seguinte na Fondation Cartier.
Selecionado por Catherine Millet para representar a França na Bienal de Veneza de 1995, César realiza a monumental “520 Tonnes”, uma montanha de compressões de automóveis amontoados alcançando 7m de altura, a partir de 520 toneladas de sucatas.
No ano seguinte, César cria uma instalação impactante e efêmera, para a feira de arte de Basel, na Suíça: “Un mois de lecture des Bâlois”, uma gigantesca compressão de 5m de altura e 7m de largura, composta de 960 toneladas de papel de jornal, representando um mês de leitura dos moradores de Basel.
Sua última obra, “Suite Milanaise” (1998), composta de 15 esculturas monocromáticas, é a apoteose luminosa de todo o ciclo de compressões do artista, uma forma de síntese entre as compressões e as expansões. César realiza 15 vezes a compressão de carrocerias de veículos Fiat totalmente novos, para depois serem pintados na fábrica de Turin com as cores da edição do ano.
César morre aos 77 anos, em Paris, no dia 6 de dezembro de 1998.
“O que me interessa é a linguagem orgânica do material, as possibilidades que ele oferece. O que importa é a beleza desse material, e todos os materiais são preciosos quando falo com eles, a sucata de metal, a borracha, as chapas metálicas, o papel, o cristal … até mesmo o ouro”. (César par César)
Atelier de la rue Lhomond 1967 Photo © Michel Delluc
César: anthologie, Fondation Cartier
Em 2008, a Fundação Cartier de Paris organiza uma antologia da obra de César, pensada e projetada pelo arquiteto Jean Nouvel (responsável também pelo projeto do prédio da fundação) que foi um grande amigo do escultor.
Jean Nouvel conheceu César nos anos 1960 na Academia de Belas Artes, onde o artista lecionou. Apesar de se encontrarem em diversos cafés e locais frequentados pela classe artística, eles somente se tornaram próximos por volta de 1980, quando iam às festas e viajavam juntos.
“O que me atrai na obra de César é a sua força. Ele é um dos primeiros artistas a se envolver com o ferro, a trabalhar com peças que pesam toneladas”, explica Jean Nouvel.
Mais de 100 obras emblemáticas do artista foram selecionadas para a exposição: compressões, expansões e impressões humanas, bem como seu famoso bestiário de sucata de ferro. Jean Nouvel faz uma homenagem ao escultor, realizando uma reconstrução parcial nos jardins do museu da obra “Un mois de lecture des bâlois”, obra efêmera de César apresentada na feira de arte de Basel em 1996.
Exposiçao César anthologie, por Jean Nouvel, Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, 2008
© SBJ / Adagp, Paris. Photo © Patrick Gries