Edgar Degas

Dados biográficos – Anos de juventude
Hilaire-Germain-Edgar de Gas nasceu em 1834 numa família rica e aristocrática. Seu avô, na época da Revolução francesa, fugiu para Nápoles e fundou um banco. Seu pai, nascido em Nápoles, mudou-se para Paris, ali abrindo uma sucursal do banco de seu pai. A preposição “de” do nome de Gas, significa que a família pertencia à velha nobreza. A partir dos anos 1870 Edgar de Gas passou a assinar seu nome de forma mais popular, Degas, apesar de ele ser mesmo um simpatizante da aristocracia.
Degas foi criado num ambiente artístico. Sua mãe, americana de Nova Orleans, era cantora de ópera amadora e seu pai, amante de música, contratava músicos ocasionalmente para dar consertos em sua casa. Sua mãe morreu quando ele era adolescente e seu pai, amante das artes plásticas e colecionador de arte, proporcionou um ambiente artístico à criação do filho, fazendo-o frequentar o Louvre e reuniões com artistas. Vendo que Degas tinha um pendor para o desenho e a pintura, montou um ateliê para ele num dos aposentos da casa da família. Aos 18 anos, Degas matriculou-se no Louvre como copista, atividade que ele declarou mais tarde, ser fundamental na educação de todo artista. Apesar de todo o incentivo paterno para as artes, Degas, como era de costume nas famílias burguesas, matriculou-se no curso de Direito. Seus estudos, contudo, não duraram muito. Seu pai finalmente permitiu que ele abandonasse o Direito pela Escola de Belas Artes. Lá, ele trabalha sob a orientação de um ex-discípulo de Ingrès. Sua formação é portanto tradicional e ele declarou mesmo mais tarde, ter seguido durante sua carreira a máxima de Ingrès (há controvérsias sobre como e quantas vezes eles encontraram: numa exposição universal ou na casa de Ingres, com um amigo em comum, mas foram poucas vezes) depois de ter vistos suas primeiras pinturas: “ desenhar linhas, muitas linhas, jamais a partir da natureza, sempre de memória e a partir das gravuras dos mestres”.
O temperamento independente de Degas não lhe permite se deter por muito tempo num ambiente de ensino tradicional e como era rico, não precisava trabalhar para ganhar a vida. Um ano após seu ingresso na Escola de Belas Artes , ele parte para uma viagem de três anos à Europa, para estudar e copiar os clássicos.
Ao voltar a Paris em 1859, Degas se dedica a pintura de grande porte de retratos de familiares e de temas históricos, submetendo seus quadros ao Salão. Dessa época é o retrato da família Bellelli (seus tios e primas que ele encontrou em Nápoles) de um traço realista que lembra Rembrandt. Mas o que chama a atenção no quadro é a disposição dos personagens, que passa uma sensação de isolamento de cada membro da família: a cena é de uma família na sala de estar de sua casa, mas cada um olha numa direção, não há qualquer comunicação entre eles, a mãe e a filha mais velha têm uma fisionomia severa, enquanto a mais jovem é mais descontraída e o pai está de meio de lado e meio de costas para o observador.

Familia Bellelli
Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?
curid=7997342
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Edgar_Degas_-_La_famille_Bellelli.JPG#/media/File:Edgar_Degas_-_La_famille_Bellelli.JPG
Essa composição perturba a ordem vigente da pintura tradicional. Apesar de os temas serem do agrado da Academia, há um realismo em seus quadros, que desagrada os juízes do Salão.
Em 1862, estando no Louvre copiando uma pintura de Velasquez, Degas conhece Manet, que copiava a mesma pintura. Manet é da mesma geração e classe social que Degas.
Uma amizade de gato e rato se estabelece entre os dois: eles se admiram, se rivalizam e implicam um com o outro, mas não conseguem ficar separados por muito tempo. Um exemplo de como era essa amizade, é o caso do quadro de Degas retratando Manet ouvindo sua mulher, Suzanne, ao piano. A figura de Suzanne não agradou a Manet, que cortou da tela a imagem de sua mulher. Quando Degas viu seu quadro cortado na parede da sala de Manet, sem dar uma palavra, tirou o quadro da parede e saiu porta fora. Chegando em casa, Degas tirou da parede uma natureza morta que Manet havia lhe ofertado e mandou entregar na casa Manet com um bilhete: Sr. , eu lhe devolvo suas ameixas.

Sr. e Sra. Manet- 1868-69
Reprodução de um livro de arte, Kitakyushu Municipal Museum of Art, Japan, Public Domain,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7198203
Ao ser indagado se ele voltou a falar com Manet, Degas responde, “O que você acha? Como é possível brigar com Manet?”
Realmente, eles são inseparáveis, apesar de se alfinetarem todo o tempo. Após a morte de Manet, Degas comprou vários de seus quadros, um deles, uma versão da Execução de Maximilien, que havia sido cortado em pedaços pela família de Manet, foi restaurado por Degas.
Degas e os impressionistas
Degas se afasta da pintura histórica após seu insucesso no Salão. Sob a influência de Manet, ele começa a se interessar por temas contemporâneos da vida quotidiana parisiense. Ambos desprezam, à sua maneira, o academicismo: Manet quer dobrar a rigidez da Academia e ser aceito por ela, sem mudar seu estilo, Degas menospreza o julgamento da Academia e se torna cada vez mais independente.
Um grupo de amigos (o grupo de Bastignolles) se forma em torno de Manet e Degas. Encontram-se todos os dias no café Guerbois, na então rua de Bastignolles, hoje avenida de Clichy, em Montmartre. Lá, se reúne a boemia artista, todos os que hoje nós conhecemos por impressionistas, que além de falar sobre os assuntos locais corriqueiros, professam a mesma hostilidade pela ditadura dos Salões e discutem como os artistas poderiam se engajar no mundo moderno.
Degas participou da Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) como voluntário na Guarda Nacional da França. Esta guerra causou grandes mudanças na Europa em geral e na França em particular: a hegemonia militar na Europa mudou de dono, a Prussia se tornou mais poderosa militarmente que a França; o império de Napoleão III caiu, com a restauração da república, mas o armistício assinado para dar fim à guerra foi considerado humilhante por muitos franceses, dando origem à Comuna de Paris, que por dois meses transformou Paris num campo de batalha entre franceses. Degas resolve visitar seus parentes em Nova Orleans. Dessa visita resultou o quadro A bolsa de Algodão de Nova Orleans onde mostra uma cena totalmente inusitada na época: o mundo das bolsas de mercadorias da sociedade industrial emergente.
Ao voltar dessa viagem, com a morte de seu pai em 1874 e o posterior insucesso dos negócios de seu irmão em Nova Orleans, Degas se viu forçado, pela primeira vez na vida, a viver de sua arte. Para preservar o nome da família, Degas e seu cunhado assumiram as dívidas e Degas vendeu sua casa.
Em 1874 Degas se empenhou na preparação da primeira mostra dos Impressionistas, o Salão dos Independentes, em oposição à mostra do Salão Oficial. Degas apresenta mais de dez pinturas, mostrando retratos de mulheres modernas: modistas de chapéus, lavadeiras e dançarinas de ballet, pintadas de uma perspectiva radical.

Sala de ballet da ópera na rua Peletier – 1872
Note a cadeira em primeiro plano e o espaço vazio no meio da tela. Nenhuma bailarina está de frente para o espectador
The Yorck Project: 10.000 Meisterwerke der Malerei. DVD-ROM, 2002. ISBN 3936122202. Distributed by DIRECTMEDIA Publishing GmbH., Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=150041
Temperamento difícil e velhice
Degas nunca se casou, apesar de ter tido alguns casos amorosos pouco duradouros. Sua casa era gerenciada pela empregada Zoé, que tomava conta de tudo, abria a porta do estúdio para as modelos, mas não deixava que nenhuma mulher tomasse conta da direção da casa.
Por causa de seu temperamento difícil e seu assumido antissemitismo, muitos dos seus amigos se distanciaram dele, principalmente depois do famoso caso Dreyfus. Em 1894 o capitão do exército francês Alfred Dreyfus foi preso e exonerado do exército acusado de traição. Em 1896 foi provada sua inocência, mas apesar disso, possivelmente por sua origem judia, Dreyfus levou dez anos para ser readmitido no exército. A sociedade francesa se dividiu entre pro e anti Dreyfus (é famoso o ensaio “ J’acuse” de Zola a favor de Dreyfuss). Degas era contra Dreyfuss, posição contrária à maioria dos artistas de avant-guarde da época.
Já na guerra de 1870, Degas percebe que sua vista não funciona bem. Este problema só agrava com o passar do tempo (ele tinha o que hoje se chama de degenerescência da mácula) tanto que ele abandona no final da vida a pintura a óleo. Ele muda sua técnica, voltando-se para os pastéis que requerem menos minúcia aos detalhes, voltando-se mais para a escultura, onde o tato fala mais alto do que a visão, continuando a trabalhar com a fotografia, enquanto sua vista o permite.
No fim da vida (Degas morreu com 83 anos), por causa do problema de visão, sua produção diminui e ele se dedica mais a colecionar arte dos pintores que ele admirava, seus contemporâneos Manet, Pissarro, van Gogh, Gauguin e Cézanne, bem como os mais antigos, Delacroix e Ingrès.
Quase cego, Degas terminaria seus dias vagando solitário ou na companhia de pouquíssimos amigos pelas ruas de Paris.
Após sua morte, foram fundidas muitas estatuetas de dançarinas, cujos modelos em cera foram encontrados em seu ateliê. Essas estatuetas são associadas umas as outras pela sequência de movimentos, dando a impressão de ser a mesma dançarina em diversos instantes da dança, o que evoca as pesquisas de fotógrafos seus contemporâneos, dos pioneiros do cinema que focaram inicialenre na dança.