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Hokusai: Biografia

Por Angela Nogueira
julho 25, 2017
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Autoretrato aos 83 anos, 1843 – Rijksmuseum van Oudheden, Leiden

Katsushika Hokusai (1760–1849)

Um dos primeiros artistas japoneses a obter um reconhecimento internacional, Katsushika Hokusai (“o louco pela pintura”) inspirou e continua a inspirar artistas de todos os lugares do mundo.

Não se tem certeza da sua data de nascimento, mas supõe-se que ele tenha nascido em 30 de outubro de 1760 – o 23º dia do nono mês do décimo ano da era japonesa Hōreki. Filho de pais desconhecidos e adotado aos 4 anos de idade, acredita-se que seu pai tenha sido Nakajima Ise, fabricante oficial de espelhos para o Shogun do país. Hokusai, no entanto, nunca foi aceito como um herdeiro – um fato que levou alguns historiadores da arte a sugerir que sua mãe era uma concubina.

Hokusai não possuía um sobrenome e tomou seu primeiro nome, Katsushika, da região de onde provinha. Ao longo de sua vida adotou mais de 30 nomes diferentes, sempre alterados a cada novo ciclo de seu trabalho. Esta era uma prática bastante comum entre os artistas no Japão, para destacar cada uma de suas fases artísticas.

Muito pouco se sabe sobre a sua juventude.  Provavelmente por volta dos 15 anos começou a gravar pranchas para uso na fabricação de estampas, desenvolvendo-se em desenho de forma totalmente autodidata.

Período Shunrõ (1778-1794)

Em 1779 Hokusai entra como aluno no ateliê de Katsukawa Shunshõ, influente artista popular e célebre por seus retratos de atores do kabuki (teatro popular do Japão, nascido no séc. XVI). Aqui ele se desenvolve como desenhista e assina sua primeira estampa com o nome Shunrõ (que significa brilho da primavera). Tempo de aprendizagem, neste período de 15 anos, o jovem artista se revela sensível à influência de desenhistas de diversas escolas e descobre a noção de perspectiva do ocidente, que nutrirá sua obra até o final. Após a morte de Sunshõ, Hokusai permaneceu no ateliê do mestre sob a orientação de seu principal discípulo, Shunko. No entanto, suas estampas começaram a incorporar elementos do sombreamento, coloração e perspectiva que ele havia visto nas obras ocidentais, o que provavelmente acabou provocando a sua expulsão do ateliê. Essa rejeição seria um turning point em sua carreira, como ele mesmo destacou:

“O que realmente motivou o desenvolvimento do meu estilo artístico foi o constrangimento que sofri nas mãos de Shunko”.

Período Sõri (1794-1805)

Curioso pelas novas técnicas e modos de expressão (um traço de sua personalidade que fugia ao contexto de um Japão avesso às influências estrangeiras), Hokusai já havia absorvido de alguma forma a perspectiva ocidental. Quando adota a assinatura Sõri, observa-se uma grande metamorfose em sua obra, aproximando-se da escola japonesa Rinpa de pintura decorativa. Ele troca as estampas por calendários ilustrados (egoyomi) e gravuras luxuosas para uso privado (surimono), impondo-se como o mestre neste gênero, e se torna ainda o artista mais importante na arte de ilustrar livros de poemas-cômicos (kyoka). Ainda neste período ele começa a desenvolver paisagens e obras cujos temas serão os seus favoritos. Nasce aqui o pintor Hokusai…

Uma oiran e duas shinzó admirando o florescer das cerejas em Nakanichó (1793-1797), surinomo, assinatura Hokusai Sõri giá, Musée Guimet, Paris

Período Katsushika Hokusai (1805-1810)

Já a partir de 1800 ele assina como Hokusai (“ateliê da estrela polar”, nome ligado à seita budista Myõken, incarnação da estrela polar). Durante este período suas assinaturas vão alternar: Katsushika Hokusai para os livros de leitura (yomohon) e, Gakyõjin Hokusai (“louco por pintura”) para as gravuras (Kyõka surimono). Os livros de ficção, com intrigas épicas e fantasiosas eram muito populares em Edo e se constituíam num grande desafio para os desenhistas, requerendo muito conhecimento e capacidade criativa. No final desta fase suas personagens começam a adquirir emoções em seus rostos e as paisagens se tornam mais delicadas e etéreas, se interessando cada vez mais pela perspectiva ocidental. Começa também a incluir a noção de claro-escuro, utilizando sombra por baixo das cores. Torna-se um mestre no uso do nanquim. 

Período Taitõ (1810-1819)

A esta altura, sua fama já está consolidada. Com cinquenta anos e sua nova assinatura –  Taitõ (estrela da Ursa menor”), Hokusai abandona os livros de leitura e passa a se dedicar aos manuais de pintura (edehon) para uso de artistas e artesãos, uma maneira de legar para a posteridade suas experiências, suas descobertas, as novas maneiras de exploração da pintura. Neste período percorreu o seu país fazendo croquis por onde passava, observando e tudo anotando. Hokusai manga (criados entre 1814 e 1878, manga significa ”desenhos sem propósitos concretos”), obra fundamental de Hokusai, é uma antologia publicada em 15 volumes, reunindo mais de 3.900 desenhos de uma variedade estonteante. Seus mangas constituem uma espécie de enciclopédia viva da vida cotidiana do Japão na era Edo. Durante esse tempo realiza poucas e menos expressivas pinturas e estampas.

           

Desenhos do Manga vol. 2 (1834), foto http://www.hokusai-katsushika.org

Período Litsu (1820-1834)

Aos 61 anos de idade, ele começa a usar o nome “Litsu” que quer dizer “um novo ano”, já que iniciava um novo ciclo astrológico e, simbolicamente, uma nova vida. É ao longo deste período que Hokusai realiza suas obras mais célebres, se dedicando essencialmente à criação das estampas no estilo ukiyo-e (“imagens do mundo flutuante” em tradução literal, gênero de xilogravura e pintura que abordava temas populares). Nascem então as grandes séries pelas quais ele se tornará mundialmente conhecido, da qual se destaca “Trinta e seis vistas do Monte Fuji”, em que ele renova de forma profunda o gênero das estampas de paisagens. A fabulosa obra “Grande Onda” faz parte desta série, que acabou sendo ampliada e ganhando mais 10 gravuras.

Ejiri na Provincia de Suruga, 1830, da série Trinta e seis Vistas do Monte Fuji,
tamanho 26.2 x 38.7 cm (10 5/16 x 15 1/4 in.), assinatura Zen Saki No Hokusai Aratame Hitsu, foto
www.hokusai-katsushika.org

A delicadeza do monte Fuji desenhado em uma única linha; uma rajada de vento arrasta chapéus e papéis pelos ares…

A modernidade desses conjuntos se deve essencialmente à forma como Hokusai emerge das limitações existentes neste gênero. Diferentemente do usual, suas paisagens não retratam locais claramente identificáveis, e sim ilustram as metamorfoses do tema selecionado. Nesta fase começou a usar o azul de Berlin, ou da Prússia, o novo pigmento trazido pelos mercadores holandeses e que tanto inspirou o pintor Van Gogh.

A obsessão de Hokusai com o Monte Fuji fazia parte de sua busca pela imortalidade artística – na tradição budista e taoísta, o monte Fuji mantinha o segredo da imortalidade, como sugere seu nome: Fu-shi (“não morte”). Na série “Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji” ele é retratado sob diferentes ângulos, às vezes como foco central, em outras como detalhe de fundo. Alguns deles, inteiramente em tons de azul prussiano, sugerem vistas da montanha ao amanhecer, a partir de uma praia, de uma ilha ou de barcos de passageiros e navios de carga se dirigindo para a baía de Edo. Em outros ele introduziu a cor, um tom de rosa delicado e sombras mais escuras, iluminando a terra quando o sol encontra o horizonte.

Choshi na provícia de Chiba, Série Mil Imagens do Mar, estampa, 18,2 x 19 cm, Paris, Musée national des arts asiatiques – Musée Guimet © Rmn-Grand Palais (musée Guimet, Paris)

 

Vento Sul, Céu claro (Fuji vermelho), Série Trinta e seis vistas do Monte Fuji (1830-1834), estampa nishiki-e, formato 26,1 × 38,1 cm Assinatura: Hokusai aratame Iitsu hitsu, editor: Nishimura-ya Yohachi. The British Museum, Londres.

Aqui tudo é serenidade e luz. Um amor à simplificação e a capacidade de criar um máximo de efeito com um mínimo de detalhes. Provavelmente final do verão, já que a neve desapareceu do pico da montanha sagrada. Genialidade de Hokusai em captar um breve e particular momento de forma simples e sensível. Antes dele, a convenção artística reinante era representar o Monte Fuki sempre branco. Ao nele colocar diferentes cores, Hokusai resgatou a natureza tornando-a uma questão de experiência pessoal e, portanto, aberta à interpretação do artista.

Queda d’àgua no Monte Kurokami na Provícia de Shimotsuke, 1832, tamanho 35.7 x 26 cm (14 1/16 x 10 1/4 in.), assinatura: Saki no Hokusai Aratame Hitsu, foto www.hokusai-katsushika.org

Duas Carpas (1831), estampa nishiki-e, formato 23,2 x 28,7 cm,  Assinatura: Hokusai Aratame Iitsu hitsu, Paris, Musée national des arts asiatiques – Musée Guimet

Período Gakyõ Rõjin Manji (1834 – 1849)

Em 1834 ele utiliza pela primeira vez a assinatura Gakyõ Rõjin Manji (que significa “o velho homem louco por desenho”) ao publicar a primeira parte do livro “Cem vistas do Monte Fuji”. Nesta fase ele se afasta da gravura e concentra-se fortemente na pintura. As “imagens do mundo flutuante” desaparecem dando lugar a outros temas, sobretudo ilustrações de animais e plantas e temas religiosos.

No posfácio da série “Cem Vistas do Monte Fuji”, ele escreveu (tradução livre):

“Desde os seis anos de idade, eu tinha o hábito de desenhar as formas e objetos a minha volta. Com cerca de 50 anos eu já havia publicado uma infinidade de desenhos, mas nada do que produzi até a idade de 70 anos tinha grande valor. Aos 73 anos eu comecei a compreender a forma e a verdadeira natureza dos pássaros, dos peixes, das plantas…  Seguindo esse caminho, aos 80 anos eu terei feito progressos e chegarei, aos 90 anos, ao fundo da minha arte. Aos 100, eu terei alcançado um estado superior, indefinível, e aos 110 anos, seja um ponto, uma linha, tudo que eu pintar será vivo. Peço aos que viverem tanto como eu, verificar se eu cumpri o prometido. Escrito por mim, aos 75 anos, antigamente Hokusai, e hoje Gakyo Rojin, o velho louco por desenho”. 

Hokusai era um espírito livre, com corpo e alma fortes. Aos 83 anos foi convidado por Takai Kozan, um rico comerciante de Obuse para trabalhar na cidade, e construiu para ele um pequeno estúdio. Entre 1844 e 1848 Hokusai fez quatro visitas prolongadas a Obuse, a última não muito antes da sua morte aos 89 anos. Lá deixou um legado de obras-primas grandes e coloridas, notadamente uma série de pinturas de teto (que podem ser vistas no templo Gansho-in). Era mais uma nova fase de sua carreira, onde ele criava suas próprias tintas e produziu a obra “Sobre o Uso das Cores”.

Fênix pintada no teto do Templo Ganshoin, a 2km de Obuse.

Foto https://www.wikiart.org/en/katsushika-hokusai/ceiling-of-ganshoin-temple-at-obuse

Hokusai não teve muita sorte em sua vida pessoal: aos 50 anos foi atingido por um relâmpago; sofreu um acidente vascular cerebral na idade de 60 anos, que exigiu que ele reaprendesse a sua arte; após os 60 anos perdeu suas duas esposas e dois filhos, e foi forçado a pagar as dívidas de apostas de seu neto. Passou dificuldades financeiras, sobrevivendo graças a seus desenhos, que ele trocava por comida, viveu catástrofes que assolaram Edo (uma epidemia de varíola e uma inundação), e um incêndio em 1839 destruiu todo o seu estúdio e a maior parte de seus trabalhos. Imagina-se que o artista tenha produzido cerca de 30.000 obras ao longo de sua vida, incluindo pinturas, esboços, gravuras em madeira, ilustrações eróticas e livros ilustrados.

Em seus últimos anos ele conta com a companhia de sua filha, Katsudhia Õi, ela também uma pintora talentosa.  São anos de produção mais lenta, mas Hokusai se esforçava por fazer pelo menos um desenho por dia, coisa que ele fez até o último dia de vida.

Entre 1842 e 1844 desenhava um leão chinês por dia e o jogava pela janela, para “afastar a má sorte”, segundo ele. Muitos desses desenhos sobreviveram graças à Õi, que corria para recolhê-los na rua.

Hokusai morre em 18 de abril de 1848, ao lado de sua filha, aos 89 anos de idade, ainda com muitas aspirações de realização. Dizem que estas foram suas últimas palavras:

“Se o céu me concedesse mais 10 anos…ou mais 5 anos, então eu poderia me tornar um verdadeiro artista”.

Para saber mais sobre o artista e sua obra: 

Documentário (BBC/2017) – Hokusai Old Man Crazy to Paint:  https://youtu.be/C7w6LZ_4Qeg

Catalogue raisonne: http://www.hokusai-katsushika.org/index.html 

Sobre o Museu OKusai, em Obuse: http://www.dnp.co.jp/artscape/eng/ht/1209.html

http://www.katsushikahokusai.com/index.jsp

http://www.christies.com/features/Hokusai-7458-1.aspx

Livros: Edmond, de Goncourt – Hokusai

Gian Carlo Calza, Hokusai

Vídeo: The Eye of Hokusai (52 min) https://youtu.be/5GW3GJIV8uI

Se quiser saber mais sobre a influência da arte japonesa na obra de Van Gogh: https://www.vangoghmuseum.nl/en/stories/inspiration-from-japan#0

Curiosidades…

Em muitos artigos podemos encontrar uma citação atribuída a Vincent van Gogh sobre a obra de Hokusai,  a Grande Onda. No entanto, esta citação na verdade é de autoria de seu irmão Theo, como podemos ver registrado em cartas trocadas entre eles (http://www.webexhibits.org/vangogh/letter/18/533.htm).

Van Gogh e seu irmão Theo (este era um marchand e comercializava obras de arte) tinham um certo fascínio pelas gravuras japonesas, em especial as séries de vistas do Monte Fuji de Hokusai. Em carta a Theo, Vincent ressalta:

“When Paul Mantz saw at the exhibition the violent and inspired sketch by Delacroix that we saw at the Champs Elysées – the “Bark of Christi” – he turned away from it, exclaiming in his article: “I did not know that one could be so terrible with a little blue and green. Hokusai wrings the same cry from you, but he does it by his line, his drawing; as you say in your letter – “the waves are claws and the ship is caught in them, you feel it. Well, if you make the colour exact or the drawing exact, it won’t give you sensations like that”.

Museu Sumida Hokusai:

Primeiro museu dedicado ao artista, foi inaugurado em 22 de novembro de 2016 em Tokyo, e se situa na margem esquerda do rio Sumida. Entre as 1.800 peças do acervo do museu, os visitantes podem admirar “Vista panorâmica do rio Sumida”, um rolo de sete metros realizado por Hokusai e recentemente adquirido pela instituição. O museu também apresenta uma seleção de livros que estão “na vanguarda da abordagem de arquitetura japonesa moderna”, como enfatizou o pesquisador e especialista Jean-Sébastien Cluzel. Moderno e didático o museu quer trazer um novo olhar sobre a produção deste que foi um dos artistas mais representativos da corrente artística ukiyo-e e tornar sua obra conhecida por um número cada vez maior de pessoas.

http://hokusai-museum.jp/modules/Page/pages/view/37

〒130-0014 2-7-2 Kamezawa, Sumida-ku, Tokyo

9:30 am – 5:30 pm (fechado às segundas)

Hokusai Museum, Obuse

http://hokusai-kan.com/w/other-languages/english

Museum of Fine Arts de Boston

Possui uma das maiores coleções de arte japonesa do mundo, e diversos trabalhos de Hokusai integram este magnifíco acervo.

Rijksmusuen, Amsterdan

Possui uma grande coleção de obras de Hokusai.

TagsArte-japonesa
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