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Man Ray e as mulheres

Por Sheila Veloso
maio 11, 2020
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Man Ray tinha um ar non chalant, no entanto,  teve uma vida amorosa movimentada, encontrando ao longo de usa vida, mulheres interessantíssimas, que não só agitaram sua vida no cotidiano, mas influenciaram sua obra fotográfica,  dado o interesse que elas despertavam em Man Ray em explorar sua beleza por 
ângulos inusitados. Suas musas e amantes alimentaram sua produção fotográfica com fotos emblemáticas.

Já vimos que a sua primeira mulher, Adon, que não aparece em fotos, teve uma atuação marcante na vida de Man Ray introduzindo-o aos poetas franceses.

Depois, em Paris, suas relações amorosas, Kiki de Montparnasse (de 1922 a 1926), Lee Miller (de 1929 a 1932), Meret Oppenheim (de 1933 a 1934), Ady (de 1936 a 1940) e finalmente Julliet (de 1941 até a morte de Man Ray em 1975) foram, além de musas,  importantíssimas para a vida artística de Man Ray. 

O nu feminino é uma quase obsessão do fotógrafo, que  frequentemente toma uma parte ou detalhe do corpo da mulher destacando-o, esquecendo-se do resto, como se ele estivesse examinando o corpo como um detetive que acha uma pista que soluciona um caso policial.  

Para Man Ray e os resto dos surrealistas « a mulher é um ser que projeta a maior sombra e a maior luz em nossos sonhos ». Assim, a mulher tem um papel de objeto de desejo, alimentando fantasias, o que Man Ray representa bem, usando técnicas como a solarização, superposição e outras fazendo com que a mulher se apresente como um ser estranho, inatingível, mas  sobretudo belo.

As amantes de Man Ray são cada uma mais interessante que a outra. 

Comecemos por

Kiki de Montparnasse

Seu encontro com Man Ray vale a pena ser contado aqui. 

Kiki de Montparnasse era modelo de pintores que habitavam Montparnasse no início dos anos 20, quando ela conheceu Man Ray.

Man Ray tinha chegado há pouco em Paris e  estava uma noite num café da rua Vavin, café esse, primo pobre da Rotonde e do Dôme, em Montparnasse.  Era frequentado por uma mistura bizarra de tipos que habitavam o bairro, refletindo o clima dos « anos loucos » que  tomou conta de Paris  após  o armistício da Primeira Guerra Mundial. Tinha-se de tudo, todo mundo falando ao mesmo tempo, cada um vestindo o que lhe viesse à cabeça.

Numa mesa, duas moças discutiam aos gritos com o garçom que não queria lhes servir, já que elas não usavam chapéu. 

A discussão não chegava a bom termo, o garçom chamou o gerente e este reforçou a restrição do garçom,  acrescentando que sem chapéu elas poderiam se confundir com prostitutas.

Kiki não teve dúvidas, subiu na mesa, sem sapatos e com sua voz esganiçada conhecida de Montparnasse, fez um pequeno discurso dizendo que ela nunca mais poria os pés naquele local etc, etc, e para finalizar disse «sem chapéu, sem sapatos e sem calcinha», levantando a saia para mostrar que ela falava a verdade.

Man Ray chamou o garçom e disse que ele servisse as moças. A companheira de mesa de Man Ray,  que conhecia Kiki, chamou–a e sua companheira para se sentarem à mesa deles. Bem, encurtando a história, eles vão de bar em bar, se embriagam e acabam indo ao cinema. Man Ray pega na mão de Kiki, que não a retira. No fim da noite Man Ray disse que gostaria de pintá-la, mas que a emoção que sente naquele momento o impede. Ela responde que estava acostumada a isso, dizendo que todos os  artistas para os quais ela posa sentem o mesmo na primeira vez. Man Ray pede, então, que ela pose para ele fotografá-la. Ela se refusa categoricamente, dizendo que ela posa para artistas e fotografia não é arte. Mesmo assim, no dia seguinte, ela vai ao ateliê dele e se despe, pois ele quer fotografá-la nua. Após a sessão de fotos eles descem para um café. No dia seguinte ela volta ao ateliê para uma nova sessão de fotos… e não se deixam mais por 6 anos.

As  fotos mais conhecidas de Man Ray são de Kiki. 

É Kiki que posa de costas para a foto Le violon d’Ingrès  (O Violino de Ingres) e é o rosto de Kiki de olhos fechados que aparece ao lado de uma máscara africana em Noire et  Blanche(Negra e Branca).É bom notar que a foto Le violon d’Ingrès  tem várias referências interessantes. Primeiro, ela remete ao quadro de Ingrès La Grande odalisque (A Grande Odalisca). 

La Grande Odalisque- Jean Auguste Dominique Ingres
Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=130814

O dorso nu de costas, o turbantee o chale aparecem nas duas obras onde as figuras nuas estão sentadas. Em a Grande Odalisca, Ingrès retrata uma prostituta, portanto um objeto de desejo.

A expressão Le violon d’Ingrèsem francês significa um hobby, uma atividade que se faz por prazer nas horas de lazer, e se refere ao gosto de Ingrès, pintor do início do século XIX, de tocar violino. Por toda sua vida ele tocou violino por hobby  e quando ele legou toda sua obra e seu violino à sua cidade natal para um museu em sua homenagem, recomendou expressamente que o violino deveria ser exposto numa caixa numa vitrine de honra no museu. 

Bem, podemos arriscar a sugerir que Man Ray tenha dado este nome à foto para dizer  que Kiki seria seu objeto de desejo, que lhe dava muito prazer nas horas vagas. Hoje em dia esta interpretação é muito machista, mas naquela época, era considerada uma declaração de amor.

Os dois f’s nas laterais do dorso de Kiki, foram pintados por cima da foto de Kiki de costas, que depois foi refotografada.

Le violon d’Ingres
© Man Ray Trust ARS-ADAGP

A foto Noire et Blanche mostra o rosto de Kiki com olhos fechados e uma máscara africana. O contraste das duas faces, uma branca, ultra maquiada que parece uma máscara branca, achatada, opaca  e uma face negra, ultra bem talhada refletindo a luz, uma ao lado da outra é perturbador. Esta foto aparece pela primeira vez na edição da Vogue francesa em 1926. A máscara é de propriedade de Sakier, outro americano em Paris, amigo de Man Ray. Foram feitas várias impressões de fotos com a máscara antes da versão final ter sido  escolhida, evocando  o interesse surrealista entre sonho e o sobrenatural.

Numa interpetação mais natural, é que a máscara negra é o negativo da face branca de Kiki.

Noire et Blanche 1929 Man Ray — Christie’s,
Domaine public

Aparecendo numa revista de moda, esta foto mostra a tendência corrente da época para  o interesse sobre coisas africanas. 

O interesse por máscaras africanas na Europa cresceu a partir do início do século XX  desde a introdução das máscaras na arte por Picasso (confrontar com  Les Mademoiselles d’Avignon). Em 1926, a proliferação dos clubes de jazz, cujos músicos eram predominantemente afrodescendentes, e o sucesso de Josephine Baker acirraram o interesse sobre as culturas africana e a afro-americana. Assim, a foto de uma mulher branca, elegante, junto  com uma máscara africana pode ser vista como o significante do exótico africano e afro-americano para os europeus.

Várias reimpressões desta foto foram feitas por Man Ray de 1926 até 1938. Em cada uma ele aplicou diferentes  técnicas, papéis fotográficos e enquadramentos, com o intuito de obter a impressão perfeita.Nas diferentes impressões o rosto de Kiki sofreu vários retoques e algumas modificações, o que torna Man Ray, digamos, o pioneiro do photoshop.

Man Ray-  Detalhe do negativo retocado da pestana esquerda, para a impressão positiva no alto e para a impressão do negativo em baixo. ca. 1926-28Ó2006 Man Ray Trust/ Artists Rights Society (ARS) NY/ ADAGO, Paris 

A relação Man Ray-Kiki foi passional, às vezes violenta, mas sempre apaixonada.  Eles se separaram em 1929.

Kiki era a rainha de Montparnasse, além de posar como modelo para pintores que circulavam por Montparnasse, cantava em cafés e cabarés e até mesmo arriscou a pintar alguns quadros. Acompanhou Man Ray por suas andanças mundanas ao lado de Picasso, Dali, Cocteau entre outros, protagonizou filmes dirigidos por Fernand Léger e Man Ray, e até escreveu suas memórias com prefácio de Ernest Hemingway.

Com o passar do tempo, seu peso corporal e  o  consumo de drogas foi aumentando, o que prejudicou sua  saúde e acabou fazendo-a cair no ostracismo.

Agora falemos de

Lee Miller

Lee Miller era uma americana lindíssima, fotógrafa e modelo de fotografia que chega em Paris em 1929.

Ela tinha 21 anos e procurou trabalho com  Man Ray. Tendo interesses comuns pela fotografia, tornou-se sua colaboradora. Man Ray lhe ensinou fotografia e sua beleza fez com que logo ela se tornasse musa  e amante do mestre.

Em carta a seu irmão Lee relata como foi  descoberta a técnica de solarização.

Ela estava  na câmara escura junto com Man Ray revelando e sentiu alguma coisa roçando em sua perna. Ela pensou que fosse um  camundongo !! e acendeu a luz. « Na tina de revelação havia uma dúzia de negativos revelados de um nu sobre fundo negro. Man Ray os pegou e mergulhou na tina  com hiposulfito e observou o resultado. A parte não exposta do negativo – o fundo negro – havia sido, sob o efeito da luz da lâmpada,  modificada para branca até a borda do corpo nu. »

Man Ray, foto de Lee revelada com solarização

Man Ray fez diversas fotos de Lee nua ou vestida,  com ou sem solarização ;  Lee vez vários contatos com os surrealistas e ainda atuou no primeiro filme de Cocteau : Le sang d’un poète(O sangue de um poeta) em 1930-32.

Em 1932 Man Ray e Lee se separaram, e ela voltou para Nova York, continuando sua carreira de fotógrafa de sucesso fotografando para a Vogue. Tendo se casado com um egípcio rico, ela vai morar no Cairo. Lá ela fotografa as pirâmides os desertos, ruínas e vilarejos.

Numa de suas viagens para Paris ela conhece o artista inglês surrelalista Roland Penrose. Eles se apaixonam, ela deixa o marido egípcio e vai morar com Roland em Londres. Ela se torna uma contribuidora importante  de muitos artigos e fotos para a Vogue inglesa,  fotografando Londres sob o fogo alemão e foi a primeira mulher a fazer foto jornalismo de guerra, atuando nas linhas da divisão da Infantaria do Exército americano. Sua história antes, durante e depois de Man Ray é interessantíssima e valeria um artigo  só para ela.

Man Ray fica desolado quando eles terminaram e pinta  em 1934 o quadro– A L’heure de l’Observatoire- les amoureux (À Hora do Observatório, os apaixonados). É uma tela tipicamente surrealista. Uma boca vermelha, carnuda, enorme paira, ao longo da tela, ligeiramente inclinada, sobre uma paisagem delineando ao longe o Observatório de Paris, à esquerda da tela.

© Man Ray Trust / Artists Rights Society (ARS), New York / ADAGP, Paris

O quadro refere-se a duas amantes de Man Ray: Kiki e Lee Miller; a boca (possivelmente de Lee) é uma homenagem a Kiki, que sempre se apresentava muito maquiada com os lábios pintandos de vermelho forte,  e a paisagem de Paris remete  ao corpo de Lee, sendo as torres do Observatório seus seios. Mais ainda, Lee, mesmo antes de romper com Man Ray, vai morar sozinha e o Observatório de Paris se encontra entre os apartamentos de Lee e Man Ray, no caminho  por onde este sempre passa indo ou vindo pelo Jardim do Luxembourg entre os dois apartamentos. 

A pintura tem elementos surrealistas. De uma forma concreta, a boca, uma imagem imaginária, está pintada sobre uma paisagem real ; outra referência é a fragmentação do corpo (boca e seios) como se a representação do corpo feminino se limitasse a estes dois elementos. Outra referência ainda é a glorificação do amor físico, que na época em que as ideias surrealistas começaram a aparecer, chocou a sociedade, indicando que o amor não era uma coisa sublime e etérea, mas o encontro de dois corpos.

Lee e Man Ray continuaram se encontrando, passando temporadas juntos com seus novos companheiros na  Cotê d’Azur.

Em  1947 Lee e Roland Penrose se casam,  ela tem um filho e para de  fotografar profissionalemnte, passando a se dedicar à  gastronomia tendo fequentado o curso de Cordon Bleu em Paris.  Ela oferece jantares surrealistas e tira fotos dos pratos e de seus convidados. 

Quando ela morre seu filho descobre mais de 60000 negativos e 20 000 fotos, descobrindo a carreira de fotógrafa de sua mãe.

Depois de Man Ray passar por um período de depressão por causa do rompimento com Lee, ele tem um relacionamento com Meret Oppenheim.

Meret Oppenheim

Meret Oppenheim, alemã, tendo sido criada na Suíça, era fotógrafa e artista plástica.

Teve contato com artistas desde cedo na Suíça e seu pai, médico alemão a introuziu aos trabalhos de Carl Jung. Desde então e por toda sua vida Meret registrava no papel os seus sonhos.

Jung também influenciou a arte de Meret, que adotou o ideal junguiano da criatividade andrógina na sua arte, onde aspectos de arte ditos masculinos e femininos apareciam misturados.

Em 1932, com 18 anos, ela se muda para Paris, estuda pintura e tem um estúdio em Montparnasse, claro, onde os artistas de destaque da época frequentam. Em 1933 ela conhece Jean Arp e Alberto Giacommetti, que após terem visto seu trabalho em seu estúdio, a convidam para participar da exibição surrealista no Salão dos Surindependentes. Oppenheim então começa a frequentar o círculo surrealista que se encontra no Café de laPlace Blanche (Café da Praça Branca)  tendo aí conhecido Man Ray.

É interessante notar que os escritores e artistas surrealistas sempre foram acompanhados por  mulheres bonitas e interessantes, mas elas ficavam em segundo plano nos seus experimentos, sendo consideradas musas. Oppenheim, no entanto, foi aceita como artista e produziu obras surrealistas de impacto entre os surrealistas, participando ativamento de suas reuniões e exposições. 

A obra icônica de Oppenheim é Object ou le Déjeuneur en fourrure(Objeto ou o café da manhã de pele) uma chícara e um pires de chá com uma colher cobertos de pele de animal. Considera-se que esta obra exprime a quintescência do surrealismo, pois segundo Andre Breton, fundador do surrealismo, um objeto de uso diário, apresentado de forma inusitada, desafia a razão e incita a sociedade desprevenida a se conectar com seu subconsciente. 

Outras interpretações foram dadas para a obra de Oppenheim, todas se referindo ao contraste e estranhamento, algumas com um cunho sensual. Oppenheim prefere se referir à  sensação estranha e inusitada que a pele de animal pode causar quando se toma chá numa xícara como essa. 

Em  1936,Object ou le Déjeuneur en fourrure(Objeto ou o café da manhã de pele) foi comprada pelo MoMA, após uma exposição de obras de Oppenheim no mesmo museu. Esta foi a primeira aquisição de uma obra surrealista pelo MoMA,  e Oppenheim ficou sendo conhecida como A primeira dama do MoMA. Man Ray também  a unge como « a Musa do Surrealismo ».

Meret Oppenheim Object Paris, 1936

Oppenheirm serviu de modelo para Man Ray para uma série de fotos de 1932 a 1936 onde ele a fotografou usando um  jogo de luz no seu corpo nu  com ou sem  a técnica de solarização. 

Capa do livro Amazon.fr – Meret Oppenheim by Elisabeth Bronfen (2013-06-30) – Elisabeth Bronfen; Heike Eipeldauer; Christiane Meyer-Thoss

A série Erótica Velada, de 1933, de Meret Oppeneim nua numa gráfica com tinta nas mãos e braços como se fosse sangue ficou famosa e pode ser interpretada com um  viés feminista. Meret Oppenheim, nestas fotos manchadas de tinta, mostra que ela recusa a usar seu corpo nu ou seu estatus de musa idealisados, de uma maneira estereotipada, e que  suas poses podem ter sido estudadas em conjunto com Man Ray, não exatamente como as de um modelo simplesmente, mas com sua participação criativa de colaboradora (cf. com Hyhhen www.dtspitzerhanks.com/blogging/2017/11/10/man-ray-meret-oppenheim-and -sexual-assault).

Erotique voilée, Meret Oppenheim à la presse chez Louis Marcoussis, 1933 Man Ray, Fondazione Marconi, Milano

Oppenheim continuou sua carreira de artista e foi uma das poucas mulheres de sua época a ter seu trabalho reconhecido internacionalmente enquanto viva.

Adrienne Fidelin

Adrienne Fidelin, ou Ady, como ficou conhecida, era uma dançarina, negra, de Guadalupe, um arquipélago  caribenho de possessão francesa, que se apresentava em Paris. Como ela e Man Ray se conheceram, não é exatamente conhecido, mas em 1936, no auge do movimento Surrealista, eles se encontraram e ela, com seus 20 anos, se tornou musa e amante de Man Ray. Ela foi bem recebida no círculo surrealista de amigos de Man Ray e fez logo  amizade com os casais Picasso/Dora Marr, Paul Éluard/Nusch, Lee/Penrose e outros que passavam férias sempre juntos na Riviera.

Esta seria mais uma modelo bonita, que se tornaria musa inspiradora e amante do fotógrafo, se não fosse a foto de Ady de página inteira que Man Ray, um dos principais fotógrafos de moda da revista Haper’s Bazzar, publicou numa reportagem de 2 páginas sobre a moda no Congo Belga. Na página esquerda um texto de Paul Éluard, com fotos de tres mulheres brancas, (uma das quais, Consuelo, mulher de Saint Exupéry) vestindo blusas de moda ocidental, com adereços africanos na cabeça, e na página à direita, um retrato de Ady, de página inteira, sem blusa com colares e pulseira sobre a pele.  

Detalhe: a revista Haper’s Bazzar era de propriedade do magnata William Randolph Hearst que expressamente proibia modelos negros em sua revista.  

Talvez a ligação de Ady com Man Ray tenha pesado a seu favor, e também porque era caribenha, em vez de africana, e falasse francês, o fato é que a edição do Haper’s Bazzar saiu do jeito que a editora de moda,  Carmel Snow, havia idealizado, tendo tido  a coragem de enfrentar  a censura  racista de Hearst. 

Esses foram « os 15 minutos de fama » de Ady no mundo fashion. Ela não saiu em nenhuma outra reportagem de qualquer revista de moda depois desta. No entanto, ela foi a primeira manequim negra da História.

Em 1940, com a rendição da França aos nazistas, Man Ray voltou para os Estados Unidos sem  Ady, que ficou em Paris cuidando de sua família. O que se sabe dela é que se casou e foi vista pela última vez dançando num clube « Negro », isto é, onde só se apresentavam artistas negros, na av. Champs Elysées. Pelo menos, ela aproveitou da companhia de Man Ray para ter uma vida interessante, nem que seja por uns tempos.

Juliette Browner

Era filha de imigrantes judeus da Romênia.  Mudou-se do Brooklyn para Los Angeles para tentar uma vida de artista de cinema depois de ter estudado dança com Martha Graham, em seu estúdio  de dança contemporânea de Nova York, e de ter se tornado modelo de pintura.

Juliette Brower conheceu Man Ray num nigthclub em Los Angeles quando este se instalou em Holywood fugindo da segunda guerra na Europa. 

© Man Ray, Juliet Browner. 1944

Em 1946 Juliette e Man Ray se casam, num casamento duplo, junto com seus amigos artistas surrealistas Max Ernst e Dorothea Thanning, cuja foto mostra a irreverência dos casais.

 Foto do casamento dupla de Man Ray et Juliette Brower

Man Ray continuou sua carreira de fotógrafo de sucesso  em Hollywood e Nova York.  Julliette testemunha que Man Ray gostava que ela participasse de seu trabalho, mesmo quando não estava posando para ele. Assim, a vida de Juliette girava em torno da de Man Ray.

Em 1951 eles se mudaram para Paris, morando num pequeno estúdio perto do Jardim de Luxembourg e se mantiveram casados até a morte de Man Ray em 1976. Juliette doou as fotografias que estavam no estúdio de Man Ray para o Centre Pompidou.Quando retornou para Paris  depois da guerra, Man Ray foi se distanciando cada vez mais da fotografia, se dedicando à pintura e `a sua autobiografia,Autopotrait. Uma feliz  exceção foi a série de retratos de Caterine Deneuve, feita em 1968 em seu estúdio em Paris. 

Man Ray- Caterine Deneuve 1968 -Telegraph.co.  

Na foto acima ela usa brincos cujo modelo é a peça de escultura L’abat-jour de Man Ray e posa em frente de um tabuleiro de xadrez, peça de admiração de Man Ray.

Este artigo e o artigo Man Ray, têm uma proposta diferente dos outros “posts” deste blog: aqui há informação sobre exposições que não foram vistas por nós. Nossa intenção é de que, quando esta crise mundial da saúde acabar e pudermos viajar de novo, estaremos apreparados para apreciar as exposições sobre este homem genial que foi Man Ray, que com seu ar de desdém pela autoridade e tudo o que fosse imposto como lei, tinha uma rotina de trabalho espartana  e uma perseverança incansável na busca do belo em  meio ao caos,  através da fotografia. 

Referências Bibliográficas

Man Ray em Paris/ Man Ray in Paris- Catálogo  da exposição, Curadoria de Emmanuelle de l’Écotais CCBB São Paulo, CCBB Belo Horizonte, Ed. ArtePadilla, 2019.

Bradley, Fiona – Surrealism, Moviments in Mordern Art, Tate Gallery Publishing, 1997.

Chavot, Pierre – L’ABCdaire du Surréalisme, ed. Flammarion, 2001.

Franck. Dan – Bohèmes Les Aventuriers de l’Art Moderne (1900-1930) – Le livre de Poche, 2009.

Muller, Catel – Kiki de Mintparnasse, Ed. Galera Record, 2010

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