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VAN DONGEN E LE BATEAU LAVOIR

Por Sheila Veloso
maio 7, 2018
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VAN DONGEN e LE BATEAU LAVOIR

Museu de Montmartre, de 16/02 a 26/08, 2018

Durante o ano de 2018 Paris sedia o Ano Cultural Holandês na França, com diversas manifestações artísticas. O Museu de Montmartre (clique aqui para saber mais sobre o museu), um museu charmoso no alto de Montmartre, que foi residência de diversos artistas (do fim do século XIX ao começo do século XX), comemora esse evento mostrando a exposição Van Dogen et le Bateau Lavoir.

Sempre que vou a Paris, procuro saber o que está sendo exposto no museu Montmartre, e me interessei por esta exposição: de Van Dogen, já tinha ouvido falar, sem, contudo ser capaz de reconhecer seus quadros, nem localizá-lo exatamente no tempo, mas o Bateau Lavoir, este sim, sempre me interessou.

A exposição se propõe a mostrar a importância que a breve estadia de Van Dongen no Bateau Lavoir (o ano de 1906 e parte de 1907) teve na obra e vida desse pintor. A exposição ocupa 2 andares do museu. No primeiro andar estão as obras de Van Dongen do início de sua carreira a partir de 1895 e os da época em que morou no Bateau Lavoir até o fim de 1906. No segundo, após passarmos pela sala de jantar do ateliê-apartamento de Suzanne Valadon (moradora do terceiro andar do prédio do museu no início do século XX) a exposição mostra quadros do final da estada de Van Dongen no Bateau Lavoir (meados de 1907) começando pelo quadro Lutadoras do Tabarin e alguns quadros e ilustrações posteriores, mostrando o efeito do Bateau Lavoir sobre sua vida artística.

A seguir, alguns detalhes sobre o Bateau Lavoir e a obra exposta de Van Dongen.

Bateau  Lavoir

O Bateau Lavoir era uma construção de madeira no início da subida da Butte (colina) de Montmartre, na Rua Ravignan número 13. Podemos compará-lo a um cortiço: uma espécie de casa de cômodos, cujos quartos eram alugados a pessoas de baixa renda para moradia ou como estúdios para pintores e artistas pobres. O nome Bateau Lavoir (barco lavadouro) foi dado ao prédio pelo poeta Max Jacob, que morava no 7 da rua Ravignan. Dizem que, ao entrar pela primeira vez no local, ao ver as roupas estendidas pelos corredores, lembrou-se das lavadeiras. Além disso, nos dias de chuva, a água se infiltrava no prédio e o piso rangia fazendo um barulho parecido com o dos barcos de madeira, divididos em cubículos, cedidos pela prefeitura de Paris às lavadeiras para lavar a roupa na beira do Sena. O prédio consistia de 3 andares. A entrada do prédio na rua Ravignan dava acesso aos outros andares inferiores, descendo-se por uma escada de madeira. Havia uma única torneira e um tanque no andar -3, e a limpeza deixava bastante a desejar.

No entanto, nesse prédio se alojaram, no início do século XX, os pintores Picasso, (por volta de 1904), Van Dogen (dezembro de 1906), Juan Gris e os escritores André Salmon (crítico de arte, defensor do cubismo, que batiza de Mademoiselles d’Avignon, o famoso quadro de Picasso, e organiza uma exposição onde este quadro é apresentado ao público pela primeira vez em 1916), Max Jacob, Pierre Mac Orlan (autor do livro Porto das sombras – Quai des brunes, que virou filme com Jean Gabin), entre outros.

Anônimo, Le Bateau Lavoir, 13 rue Ravignan, s.d. tiragem moderna, Museu de Montmartre, coleção Le Vieux Montmartre © Le Vieux Montmartre.

Apesar das péssimas condições de conforto e limpeza, o Bateau Lavoir, em particular o ateliê de Picasso, atrai vários artistas (George Braque, Modigliani, Marie Laurencin entre outros), escritores (tais como Guillaume Appolinaire, Jean Cocteau e Gertrude Stein) e marchands de arte (Ambroise Vollard, Kahnweiller, Berthe Weil, etc) que lá se reúnem frequentemente para discutir os novos caminhos da arte. Au Rendez–vous des poètes (ao encontro dos poetas), foi o que Picasso escreveu na porta do seu ateliê.

O Bateau Lavoir pode ser considerado como o berço do modernismo, pois foi lá que Picasso pintou Les Demoiselles d’Avignon, quadro considerado seminal do Cubismo e da Arte Moderna.

Com o passar do tempo o eixo artístico se deslocou de Montmartre para Montparnasse e os artistas deixaram seus ateliês do Bateau Lavoir.

O prédio de madeira foi destruído por um incêndio em 1970. Em seu lugar um outro, em cimento, foi construído, com 25 estúdios onde até hoje trabalham jovens artistas.

Van Dogen no Bateau Lavoir

Kees van Dongen, pintor holandês, com formação na Academia Real de Belas Artes de Rotterdam (Willem de Kooning Academy, hoje) chegou a Paris em 1899.

Antes de ir para Paris, Van Dongen costumava perambular pelo bairro Vermelho (bairro de prostituição) e pelo porto de Rotterdam, o que imprimiu um estilo naturalista aos desenhos que fazia para um jornal local. Em Montmartre, onde se instalou, trabalha como ilustrador nas revistas artísticas da época: Gil Bas, La Revue Blanche, entre outras. Van Dogen é boêmio, passando suas noites nos bares e cafés de Montmartre, conhecendo o bas fond e os anarquistas que frequentam o bairro, registrando o que vê num caderno de croquis.

Em 1904 ele expõe na galeria de Vollard cerca de 100 quadros, metade dos quais pintados em Paris, com suas impressões de Montmartre. Seus quadros, apresentando um toque firme e uma paleta colorida atraem a atenção do público (Maison à Montmartre lembra a casa amarela de Van Gogh e Femme assise tem um toque selvagem –fauviste).

Essa boa receptividade do público o encoraja a expor no Salão dos Independentes de 1905 cenas de circo e carrosséis. No quadro o Carroussel Van Dongen representa um carrossel feéricamente iluminado por lâmpadas elétricas, com cortesãs montadas em porcos cor de rosa, o que o associa aos fauves. Este quadro, por sinal, foi comprado por Matisse.

Kees van Dongen, Le Carrousel (Manège de cochons), c. 1905
Coleção particular, antiga coleção Henri Matisse.

A associação com Van Gogh é propositalmente explorada por Van Dongen em sua breve estada no verão de 1905 em Fleury-en-Bière em companhia de Otto van Rees e sua mulher, também pintora, ambos holandeses. Lá ele pinta a colheita e campos de trigo inspirados nos quadros de Van Gogh, com um traço pontilhista.

Les Lieuses (Amarradoras de Feixes) – 1905 domínio público americano

Desta forma, Van Dogen, obtém uma posição de pintor de vanguarda no meio artístico.

Van Dongen foi para Paris seguindo uma colega da
Academia Real de Belas Artes, Juliana Augusta Pretinger, apelidada Guss, por quem se apaixonara. Guss tinha arrumado um emprego de retocadora num ateliê fotográfico em Paris. Eles se instalam no Maquis, uma espécie de favela ao norte de Montmartre, logo depois se mudando para um pequeno apartamento na rua Girandon. Em 1901, Guss e Van Dogen se casam e, em 1905, Guss dá à luz uma filha, Dolly. Precisando de mais espaço, Van Dogen se muda com a família em dezembro de 1905 para um quarto no Bateau Lavoir, possivelmente por indicação de Picasso. A mudança para o Bateau Lavoir não só melhorou as condições de trabalho de Van Dongen como também permitiu que ele convivesse numa atmosfera de intensa troca de ideias com diversos artistas (Matisse, Vlamick e, principalmente, com Picasso).

Picassso morava nessa época com Fernande Olivier, la belle Fernande, sua modelo. Fernande pode ser considerada como a primeira grande paixão de Picasso; ela foi responsável pela mudança da fase azul (depressiva) para a fase rosa (dos arlequins) de Picasso. Os dois casais, Van Dongen / Guss e Picasso / Fernande, logo se tornaram muito próximos e Fernande tornou-se a segunda modelo mais importante de Van Dongen, somente atrás de sua mulher e filha. Van Dongen a usa como modelo em vários nus, como era comum na época, muito dos quais em poses sensuais. É interessante notar, que Fernande registrava sua vida e a dos companheiros de Picasso no Bateau Lavoir num diário, e que logo após a chegada de Van Dongen ela parou de escrever no diário. Teria ela algo a esconder? Nunca se soube a resposta.

O fato é que Fernande se afeiçoa muito a Dolly (registrado em fotos das duas) e Guss e Dolly frequentam o estúdio de Picasso. Há fotos das duas no estúdio de Picasso em frente do quadro Les Demoiselles d’Avignon, quadro este que Picasso tinha reservas em mostrar ao público até 1916. Picasso passa horas brincando com Dolly, carregando–a nos ombros ou fazendo acrobacias com ela. Os rostos das bonecas de pano de Dolly eram pintadas por Picasso. Que luxo!!

Ao chegar ao Bateau Lavoir, Van Dongen se dedica a preparar os quadros para serem expostos no salão dos Independentes de 1906, entre eles, um pastel tendo como tema o Moulin de la Galette. Ele esboça o movimento ao vivo dos casais dançando para registrar toda a atmosfera da vida noturna de Montmartre. A luz branca das lâmpadas e a luz dos lampiões têm um papel fundamental. Ele as utiliza para dar mais vivacidade às cores, uma textura mais lisa às vestimentas e aos rostos, e um contorno mais vivo aos olhares. Essa iluminação faz com que as prostitutas, vistosamente vestidas, frequentadoras do Moulin de la Galette emerjam literalmente da multidão.

Le Moulin de la Galette 1906 domíno público

Nitidamente, neste ano de 1906 Van Dongen reorienta seu trabalho para o estudo da figura humana, ambientando-o na vida noturna de Montmartre (vide o quadro Aux Folies-Bergères, retratando as demi mondaines aguardando seus clientes).

Aux Folies Bergères c. 1906
Bruxelas. Arquivos do Museu de Literatura , inv CabV00012
Foto tirada do catálogo da exposição Van dongen et le Bateau Lavoir pág.107

Ao estilo de Toulouse-Lautrec ele registra a dança da hora, La Mattchiche (O Maxixe) – essa dança originária da América do Sul e exportada para a Europa era conhecida aqui no Brasil como Tango brasileiro e era considerada indecente para ser dançada nos salões da boa sociedade.

La Matchiche 1904 (C) ADAGP, Paris
crédito (C) RMN-Grand Palais / Gérard Blot Troyes, musée d’Art moderne

Devido às discussões com Matisse sobre o papel estilizante e caracterizante da linha, e com Picasso, sobre o conceito de arte moderna, e sob a influência da leitura do ensaio “O Pintor da vida moderna” de Baudelaire, Van Dongen se dedica aos retratos de mulheres desenhadas sobre um fundo achatado de uma única cor, onde o contorno tem papel fundamental (vide La Jarretière – A liga, tendo provavelmente Fernande como modelo, e Les écuyères do circo Medrano).

 

La jarretière (A Liga) 1906 coleção particular
Foto tirada catálogo da exposicão Van Dongen et le Bateau Lavoir página 23

 

Les écuyères du cirque Medrano -1906 coleção Alberto Coritina
Foto tirada do Catálogo da Exposição Van Dongen et le
Bateau Lavoir, pág,59

 

Os quadros de Van Dongen pintados nesse período não fizeram sucesso nos salões: o Salão de Outono de 1906 recusou a maioria de seus quadros, e no ano seguinte recusou todos eles. Os quadros de Van Dongen passam a ser unicamente expostos na galeria de Berthe Weil, a mesma marchand que ajudara Van Gogh no inicio de sua carreira em Paris, e na loja do vendedor de tintas Père Soulier, alcoolizado 24 horas por dia, bebedor inveterado de absinto, cuja loja se situava em frente ao circo Medrano (circo frequentado por Van Dongen e Picasso) – lugares de pouca ou nenhuma projeção artística.

No fim de 1906 os ventos mudam a favor de Van Dongen. Com a nomeação de Félix Fénéon como diretor de arte moderna da galeria Bernhein-Jeune, o quadro La Jarretière é comprado pela galeria (e logo depois vendido para Paul Signac) e Van Dongen consegue expor seus quadros nessa galeria de prestígio. Félix Fénéon, já em 1904, fizera o prefácio do catálogo da exposição de Van Dongen na galeria de Vollard. Possivelmente foi Fénéon que o incentivou a fazer uma viagem aos Paises Baixos ao longo de 1907.

Ao voltar dessa viagem, Van Dongen encontra o casal Fernande/Picasso em pé de guerra e o quadro Les Demoiselles d’Avignon dado por terminado, depois de muitas e seguidas modificações. Van Dongen pinta, então, uma resposta ao quadro de Picasso antagonizando o cubismo nascente das Demoiselles d’Avignon: Les lutteuses de Tabarin (as Lutadoras do Tabarin). Neste quadro, como no de Picasso, o ambiente é um cabaré, mas as mulheres ali retratadas não refletem o ambiente erotizado e sensual dum cabaré. As mulheres estão estáticas, olhando de frente para o pintor/espectador, posando como se estivessem prestes a entrar em luta com quem as estivesse olhando. Este quadro foi escolhido pelo Salão dos Independentes de 1908 e exposto num lugar de destaque. Van Dongen, contudo, nunca se desfez dele.

 

Les lutteuses (Lutteuses du Tabarin- lutadoras do Tabarin), 1907-08, Kees van Dongen – Nouveau Musée National de Monaco, PD-US, https://en.wikipedia.org/w/index.php?curid=47877604

O companheirismo (e a rivalidade) entre Picasso e Van Dongen resultou em vários quadros em que Van Dongen se inspirou nos de Picasso (confrontar Nu au chapeau (1908) de Van Dongen e Nu aux mains jointes (1906) de Picasso, ambos provavelmente tendo Fernande como modelo).

Nu aux main jointes (Nu com as mãos juntas) 1906- Pablo Picasso MoMa, New York , Coleção the Willian S. Parley – domínio público

Nu aux Chapeau – La Fleur rouge ( Nu de chapéu- a Flor vermelha)- Van Dongen1908 Istambul, Coleção Ali Raif Dinçkök.
Foto tirada do catálogo da exposição Van Dongen et le Bateau Lavoir, pag. 25

O sucesso dos quadros expostos no salão dos Independentes, a exposição monográfica na galeria Kannweiler de 1908 e a venda de seus quadros expostos na galer,ia Bernhein-Jeune fizeram com que Van Dogen fosse considerado, até 1910, um dos pintores de figuras humanas mais apreciados em Paris e no estrangeiro. Esse reconhecimento se deveu certamente à sua vivência no Bateau Lavoir.

No fim dos anos 40, começo dos 50, uma série de livros cujo tema é Montmartre do início do século (XX) são publicados, entre eles, L’air de la Butte, de André Salmon e Au beau temps de la Butte, de Roland Dorgelès, este último ilustrado por Van Dongen. Van Dongen tem 72 anos e divide seu tempo entre Monaco, numa vila que ele batizou de Bateau Lavoir,

Kees Van Dongen, Fernande, Picasso, Apollinaire et Max Jacob réunis aux Enfants de la Butte rue des Trois-Frères, 1949
Litografia em Roland Dorgelès, Au beau temps de la Butte, Paris, Nouvelle Librairie de France, collection Gérard Jouhet © ADAGP2018, Paris

e Paris. No livro de Dorgelès ele retrata com nostalgia a época dos seu início de carreira no Bateau Lavoir. Ele faz caricaturas das pessoas daquela época, usando cores vivas; numa delas ele representa o bando de Picasso: Fernande (pintada com os olhos amendoados, que a caracteriza nas pinturas que Van Dongen a usou como modelo) abraçada a Picasso, Appolinaire e Max Jacob, e o próprio Van Dongen, reconhecido pela barba ruiva e o cachimbo.

Depois do Bateau Lavoir

O prestígio e reconhecimento de Van Dongen pelo público permitem que o pintor viaje, em 1910, voltando à Holanda primeiramente, mas visitando também o Marrocos, a Espanha e a Itália. Fica impressionado com a música e costumes andaluzes, o que reflete na sua obra pela próxima década.

Kees van Dongen, A dançarina Anita, c.1907-08 – Statens Museum for Kunst (SMK), PD-US, https://en.wikipedia.o/w/index.php?curid=47562259

Com o passar do tempo, Van Dongen vai se distanciando das ideias anarquistas dos primeiros anos em Paris e vai se enfronhando cada vez mais no mundo da alta sociedade local. Aquele que em 1904 disse:

“O que é realmente fabricar quadros, servir ao luxo, enquanto a pobreza te rodeia por todos os lados? … Eu tenho o firme desejo de trabalhar pelo interesse geral, para o povo comum, e não para alguns bandidos… “

(carta a um amigo sobre uma exposição de Otto van Rees), frequenta, às vésperas da Primeira Guerra, os salões das socialites influentes de Paris, inclusive o costureiro Paul Poiret, de quem se torna muito amigo e que o introduz ao mundo das modelos e celebridades mediáticas. Agora ele mora em Montparnasse e tem um estúdio no 14e arrondissement, onde dá festas que são verdadeiras orgias, bem ao estilo anos loucos (Anées Folles). Guss e Dolly estavam na Holanda quando estourou a Primeira Guerra e não puderam retornar a Paris durante a guerra. Quando esta terminou, Van Dogen se recusou a recebê-las, pois estava vivendo com Jasmy Jacob (Alvin), diretora de uma casa de alta costura, com quem viveu até 1927. Guss e Van Dongen se divorciaram em 1921.

 

Mme Jasmy Alvin, antes de 1920 – Kees van Dongen – Centre Pompidou, PD-US, https://en.wikipedia.org/w/index.php?curid=54430351

No pós-guerra Jasmy foi responsável pela ascensão social de Van Dongen e ele se enriqueceu fazendo retratos das mulheres ricas da sociedade. É interessante notar que nesses retratos Van Dongen representa as mulheres em poses lânguidas e sensuais.

Femme au canapé (Mulher no sofá) c. 1930 – Kees van Dongen copyright Succession Kees van Dongen/SODRAC 2008

 

 

Portrait de Madame Marie-Thérèse Raulet (Retrato de Madame Marie-Thérèse Raulet), c 1925-1930, Museu de Belas Artes de Caen-Arts © ADAGP 2018, Paris

Apesar de se distanciar das ideias anarquistas, sua irreverência contra a burguesia continua e suas citações mostram um certo cinismo perante o círculo de amizades no qual ele transita, como mostram estas transcrições :

“As mulheres burguesas são tolas e insignificantes e as novas ricas são entediantes, mas as pinturas feitas delas são obras de arte”

“O essencial é alongar as mulheres – especialmente para torná-las magras. Depois, você só precisa aumentar suas jóias”

Reafirmando sua máxima:

“A pintura é a mais bela das mentiras“

Parece que a vaidade e ambição lhe subiram à cabeça. Ele bajula Anatole France e outras pessoas influentes para conseguir a cidadania francesa (que consegue finalmente em 1929), a fim de ser reconhecido como um pintor francês e não como um pintor estrangeiro na França. Por fim, ele recebe o título de oficial da Legião de Honra em 1954.

Uma mancha triste em sua biografia é o colaboracionismo na época da Segunda Guerra. Buscando o reconhecimento oficial, na época da ocupação alemã na França, ele faz uma viagem de propaganda nazista a Berlin, a convite do IIIº Reich, junto com doze artistas, incluindo Derain e Vlaminck. Essa viagem teve como consequência a proibição da exibição de seus quadros no salão de Outono por um ano, quando a guerra acabou. Mesmo tendo algumas exposições organizadas em sua honra, por ocasião de seus 90 anos, a popularidade de Van Dongen não se reergueu e ele morre no anonimato em Mônaco, em 1968.

Van Dongen absorveu todos os estilos artísticos que surgiram no início do século XX em Paris, criando um estilo próprio. Sua obra se situa entre o Fauvismo e o Expressionismo, e como artista ele tomou riscos que o posicionam como um artista de vanguarda.

 

Referências Bibliográficas

Van Dongen et le Bateau Lavoir – Anita Hopmans, Catálogo da Exposição Van Dongen et le Bateau Lavoir Somogy éditions d’art,, Paris, 2018.

Dialogue raisoné entre Picasso et Van Dongen- Jean-Michchel Bouhors, Catálogo da Exposição Van Dongen et le Bateau Lavoir Somogy éditions d’art,, Paris, 2018.

Les souvenirs nostalgiques du Bateau Lavoir de Dorgelès et Van Dongen- ãu beau Temps da la Butte, 1949, Saskia Doms, Catálogo da Exposição Van Dongen et le Bateau Lavoir, Somogy éditions d’art, Paris, 2018.

Montmartre,- Gens et legendes- Jean-Paul Caracalla, A la table ronde, 2007

The art story- http://www.theartstory.org/artist-van-dongen-kees.htm

Arty- scope.com- Van Dongen et le Bateau Lavoir-

 

 

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